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terça-feira, 22 de maio de 2012

Nota de esclarecimento aos estudantes da UFAL



 Na última terça feira (15/05) houve uma assembleia dos docentes para a discussão e votação a respeito da entrada ou não em greve. Após uma discussão pífia, votou-se pela entrada em greve e o auditório da reitoria da Ufal começou a esvaziar. Ao final de tudo, a Correnteza – enquanto DCE – informou que puxava uma assembleia geral dos estudantes para o dia seguinte, com a finalidade de tirar de lá o posicionamento dos estudantes em relação a esta luta.
            Pela quase inexistente mobilização política no seio dos estudantes, atrelada a uma assembleia relâmpago, fica fácil imaginar que esta assembleia não existiu, por não ter a quantidade mínima de estudantes. Sem quórum, o que houve foi uma “reunião ampliada” – onde, na verdade, encontrava-se quase restrita a três forças políticas existentes dentro da Ufal, fora alguns poucos estudantes. Estas forças eram o "Além do Mito...", o PSTU/ANEL e a Correnteza (PCR). Nesta “reunião ampliada”, foi encaminhada a proposta de se tirar, naquele momento, nomes para compor o “comando de mobilização estudantil” para intervir e colaborar nas atividades grevistas – bem como foi encaminhada a de lançar uma nota expondo a posição daqueles estudantes ali reunidos, para ser lida no dia seguinte, 17/05, na assembleia docente que criaria o Comando de Greve. No entanto, quando fomos discutir o caráter desta nota, houve divergências.
            Nós dizíamos que o movimento grevista dos professores precisava ser apoiado, sem dúvidas – mas não sem críticas. Para apoia-los, dizíamos, temos que criticá-los nos pontos em que falham – para que melhorem. Precisávamos criticar a forma como o movimento foi construído; a ausência de professores combativos nos espaços de discussão; a falta de um debate cotidiano, em sala de aula, a respeito da situação da Universidade e o consequente agravamento da despolitização por parte dos professores e dos estudantes; etc. No entanto, o PSTU e Correnteza disseram que as críticas não cabiam neste momento, pois iria desmobilizar o movimento dos professores. Elas devem ser feitas – disseram eles – com o movimento em andamento, no meio do processo; agora, só o que nos cabe, é “apoia-los de peito aberto”, não devemos criticá-los. Esta divergência foi para votação e – por obviedade – perdemos. A “reunião ampliada” encaminhou a proposta de lançar uma nota com caráter de um apoio acrítico. É claro que não usaram este termo, e sim um termo comovente como: “apoio de peito aberto”.
            Nossa concepção de movimento não nos permite coadunar com esta posição – quer tenha sido tirada em uma “reunião ampliada” (da vanguarda do Movimento Estudantil). Entendemos que fazer as devidas críticas ao movimento dos professores é parte fundamental – e portanto imprescindível – para que possamos apoia-los. Nosso apoio precisa ser sincero construtivo para o movimento, e ao presenciar a falta de mobilização dos professores e a falta de um debate suficiente e coerente que explique e exponha a greve para a Universidade (dentre outros erros), nossa concepção não nos permite ficar calados! Agilizamos rapidamente uma outra proposta de nota, pois achamos que esta contribuição para o movimento grevista vale mais do que uma votação entre a “vanguarda” do movimento estudantil.
            No dia seguinte, antes da assembleia dos professores do dia 17, essas três forças sentaram numa reunião rápida para fazer os ajustes finais da nota a ser lida. Lemos, então, nossa proposta de nota – que foi rapidamente negada. Explicamos o motivo pelo qual continuamos com a mesma posição, e novamente a necessidade de se ter um apoio crítico. Mas, enquanto tentávamos convencê-los através de argumentos reais e concretos de que o movimento, os professores e os alunos, precisavam receber aquela crítica – na intenção não de enfraquecer, mas de fortalecer o movimento – o que ouvimos foram tentativas de nos convencer de que o “apoio acrítico” era a posição mais correta pois foi tirada em “reunião ampliada” (repetimos: praticamente restrita às três forças) e esta é “soberana” perante os estudantes e suas posições; assim como as críticas poderiam enfraquecer a luta dos professores e alunos.
            Ao dar-nos conta de que a “burocracia estudantil” estava cega diante das reais necessidades do movimento dos professores e dos estudantes, optamos por nos retirar daquela reunião, pois estava claro que duas notas precisavam ser lidas. E o presente texto se fez na pretensão de explicar o motivo da necessidade desta segunda nota feita por nós - titulada "Vejo um museu de grandes novidades..." - em desconformidade com a “reunião ampliada”, mas em conformidade (acreditamos nós) com o movimento. Sendo assim, assumimos qualquer responsabilidade dessa decisão tomada pela coerência do movimento.
  Assinam esta nota: Grupo Além do Mito, Fernando (Filosofia), Jadson (Psicologia) e Gustavo (Comunicação Social).

Maceió, maio de 2012.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Nota sobre a greve dos docentes


“EU VEJO UM MUSEU DE GRANDES NOVIDADES...”

            Em agosto-setembro de 2011, o contexto de grave precarização do Ensino Superior impeliu aos professores da UFAL, a exemplo dos docentes de outras Universidades Federais, a deflagrarem uma greve por tempo indeterminado. Apesar de se ter um comando de greve composto por professores politicamente progressistas e bem intencionados, esta deflagração se deu, para a grande maioria dos professores, por insatisfação pessoal diante dos salários defasados e da cabal ausência de condições adequadas para o exercício da profissão que por consciência das necessidades e limites que se punha diante do movimento docente.
            Naquele momento, não obstante as deliberações de varias assembléias pelo país terem sido contrárias ao reajuste salarial de 4%, o ANDES aceitou a proposta do governo, com aval, dentre outras seções locais, da ADUFAL, o que implicava no esvaziamento da pauta da mobilização, pois os professores estavam apenas atentos à questão do seu salário; mas o problema é mais profundo, quando percebemos que estas condições salariais e de ensino, sua precarização, o aumento inconseqüente do número de alunos, desembocando no progressivo sucateamento da Universidade Pública é conseqüência de nossas ações no passado, como por exemplo a aceitação do REUNI em 2007.
                Após quase uma semana da deflagração da assembléia passada, na qual vários professores permaneceram em atividade normal - não sendo possível perceber, de fato, o clima de greve na UFAL -, houve nova assembléia onde votou-se pelo fim da greve. Ao fim, em linhas gerais, aquela mobilização serviu para mostrar que a categoria docente ainda é pouco capaz de provocar um movimento que retire a universidade dos trilhos da inércia cotidiana e a ponha no caminho da luta. A situação de agora nos relembra muito este passado recente.
                Hoje, depois de sete meses do ocorrido, o movimento docente sente novamente a necessidade de utilizar desta ferramenta de reivindicação – greve – para lutar pela garantia de suas exigências.  Os docentes da UFAL aprovaram, na última assembleia, a greve por tempo indeterminado que tem início neste dia 17 de maio de 2012. Nós estudantes, nos colocamos lado a lado nesta luta, apoiando e nos disponibilizando para construir as mobilizações, tal como fizemos nos processos anteriores, por entender que as reivindicações são legítimas e necessárias e que fazem parte da luta em defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade, onde é dever também do estudante tomar um posicionamento. Porém este apoio não pode ser feito de forma acrítica.
                Contudo existem algumas particularidades que esse momento de início de greve nos coloca na obrigação de apontar, por compreender a importância das pautas e a necessidade de que elas sejam atendidas. Desde que saiu o encaminhamento do ANDES de possível greve geral, não vimos acontecer em nossa universidade (tal como greve passada) atividade alguma por parte dos professores, além das assembléias tardias convocadas pela ADUFAL e das paralisações isoladas cumprindo com o calendário nacional, que viabilizasse uma ampla discussão aprofundada acerca da greve. Passamos por um momento de extrema apatia onde, salvo algumas poucas exceções, nem se chegou a debater o assunto em sala de aula. Este fato, incrementado pela forma como esta fora conduzida, se reflete na última assembléia dos docentes, onde após a votação da deflagração da greve, antecedida apenas por seis falas, houve um significativo esvaziamento do auditório, restando poucos professores para dar andamento às atividades. Deste modo, concluímos que não obtivemos um processo de avanço na politização da comunidade acadêmica, o que nos faz visualizar uma greve na qual a maioria dos professores irá para suas casas e os estudantes, por não enxergarem outra opção, também assumirão as férias forçadas, enquanto que a direção do sindicato busca negociar com o governo federal, até que seja feito um acordo e se reestabeleça a dinâmica normal da universidade.
                No fim da assembléia, o restante dos estudantes lá presentes foram convocados pela direção do DCE para uma assembléia estudantil no dia seguinte pela manhã, na intenção de tirar o posicionamento dos discentes sobre a greve e de que maneira se inserir nesse processo. A assembléia foi convocada com menos de 24 horas para mobilizar todo o campus. Implicando em sérias conseqüências para o acontecimento desta. O resultado foi uma reunião ampliada do DCE, não atingindo quórum para caracterizar uma assembléia. Estas duras críticas são para nós extremamente fundamentais para que nosso apoio seja sincero e construtivo, logo, elas não significam uma tentativa de enfraquecer, mas de fortalecer o movimento grevista, apontando os erros para que possamos avançar na luta.  
                Por isso, propomos uma mobilização comprometida, que a greve não seja sinônimo de férias e que não se reduza a uma pauta salarial. Mas, também, que reflita na prática a falta de condições adequadas de trabalho no cotidiano da universidade. Que a mobilização em conjunto com todos os outros setores da universidade – já que, todos são atingidos pela precarização – culminem no atendimento das pautas e na conscientização de todos quanto aos processos de sucateamento que estão se dando nas universidades públicas brasileiras. É necessário colocar, nesta greve, como discussão constante e como pauta, problemas referentes a este sucateamento do Ensino Superior Público, pois possibilita a unificação das categorias, fortalecendo ainda mais a luta.


Assina esse texto: Grupo Além do Mito, Gustavo (Comunicação Social), Fernando (Filosofia) e Jadson (Psicologia).